22 de out. de 2008

é fantástico
os animais são tão bem cuidados e protegidos aqui no centro de sumpaulo que, ultimamente, tenho visto várias bocas-de-lobo pelas sarjetas sem aquela grade que elas costumam ter. tipo, um buracão retangular.
é que os ratos estão todos muito bem-alimentados e, pobrezinhos, talvez os gorduchos não estivessem conseguindo ter acesso às ruas e calçadas com aquelas grades tão estreitas.
agora eles podem andar livremente por aí, pela minha, pela tua, pela nossa calçada.
e, cuidado, você, pra não quebrar o pé _ou a perna_ ao pisar num bueiro destampado. mas pense assim: ao menos os ratuchos podem ir e voltar de suas tocas com mais civilidade. só não se distraia pensando nisso.

17 de out. de 2008


'the kiss', gerald laing

16 de out. de 2008

quando pequeno _hoje menos_ eu adorava sentar no banco da frente nas viagens às cidades "grandes" _ou, ao menos, maiores do que a cidade de onde eu vinha.
poder ver, do amplo vidro frontal do carro, as grandes construções e praças e vias e, em especial, o topo de todos os prédios, era algo bom: proporcionava uma sensação de absorção total de tudo aquilo que os meus olhos viam. uma sensação de sensação. da janela aberta eu esticava a cabeça _ainda o faço_ para ver quão alto chegavam aqueles edifícios. ainda o faço. é como olhar do topo de um prédio do lado oposto. uma vertigem ao contrário. que alto!!
imagina só em nova york.
ainda hoje, e ainda que eu more em são paulo, onde os vidros dos carros são cada vez mais negros e cada vez mais cerrados, eu preciso te-los um pouco abertos, um pouquinho só, que seja. em casa também. janelas abertas. um indício de claustrofobia, talvez. mas também um indício de saúde, creio eu. arejar pra pensar. ventilar pra refrescar. pra não mofar. pra não cozinhar. afinal, somos tropicais.
janelas abertas nº 2: preciso de ar. preciso de campo de visão. luz. ver até onde vai a altura, pra me imaginar pulando _voando. ou, ao contrário, estando lá em cima: pra me imaginar saltando, caindo. vertigens mistas. e pra provar mentalmente que qualquer decisão dos meus atos é mais minha do que de qualquer pensamento, desejo, imagem, loucura. e que os pensamentos vão mais longe, deliram, voam, viajam. e transcendem o possível.
hahahaha
parece papo de suicida em potencial. mas nem é.

"I imagine what my body would sound like
Slamming against those rocks
When it lands
Will my eyes
Be closed or open?"
björk, 'hyperballad'

14 de out. de 2008


a capa da Vogue America de julho de 1932

13 de out. de 2008


gosto desse pôster. gosto do filme também, com sua (aparente) liberdade sexual e boas canções pop, cheias de referências musicais pop e, em especial, à música pop francesa.
gosto de louis garrel, da ludivine, da chiara mastroianni. gosto da aparente despretensiosidade do filme, com seus apartamentos parisienses propositalmente pequenos e simples, seus personagens aparentemente 'normais'... no fim, parece, sim, que ficou faltando algo. que as atitudes do personagem principal são meio vazias de sentido, meio idiotas (tipo: por que ele faz isso?).
meio frio, talvez.
mas é um musical. e as músicas compensam. a língua, as roupas, os cenários também; esses franceses de merda sabem ser charmosos.

11 de out. de 2008



Hundertwasser, 'The Rain Falls Far From Us'

'Carnation Lily, Lily Rose', John Singer-Sargent
Esse pintor americano era tão bom como retratista porque, quando você vê os quadros de longe, tem a impressão de que são fotos maravilhosas, sempre com uma luz incrível e cores aparentemente alteradas, quase que de uma forma tecnológica, como que manipuladas.
Aí, quando você chega perto, percebe que pinceladas rápidas e irregulares formam, como numa mágica incompreensível e chocante, as figuras perfeitas dos retratados. Tipo, de perto você não vê o todo, dada a (falsa) imprecisão de cada pincelada. Mas cada rápido toque do pincel era genialmente pensado para fazer aquela fotografia absurda, à base de tinta óleo.
Esse belo quadro acima tá na Tate Gallery, em Londres. Mas tem outras coisas dele também.

8 de out. de 2008

(logo acima, Julie Andrews como Victor, em "Victor ou Victoria", de Blake Edwards) Assisti a esse filme anteontem, e foi, digamos assim afrancesadamente, formidable. Cheio de piadas e referências gays (e cheio de travestis, algo difícil em filmes hollywoodyanos), sem nunca cair na tentação fácil da escrotice. Ou do preconceito. Julie Andrews é fantástica, mas, lembrando bem, a mulher já tinha sido a Mary Poppins e a Noviça Rebelde. Tipo, já era lenda viva. O diretor é o mesmo da série de filmes 'A Pantera Cor de Rosa', e o humor nonsense daqueles longas _e, é claro, típico do Jerry Lewis_ aparece aqui. A música, incrível, é de Henry Mancini, e Julie Andrews canta muito, muito bem. E dança. E o Robert Preston, que faz o personagem Toddy ("não existe nada mais inconveniente do que uma bicha velha com gripe!" hahahaha), é fabuloso. Assim como a irritante pin up Norma, incorporada por uma Lesley Ann Warren oxigenada.
Mas em nenhum momento eu consegui achar que Julie/Victoria fosse _ou parecesse_ um homem. Sorry. Pra mim foi sempre Victoria.

7 de out. de 2008

sonhos sonhos são
mas não só isso
essa noite sonhei que morava em uma casa e recebia várias visitas. daquelas que vêm pra passar alguns dias. a maioria era parente: irmã, mãe, primos. tinha amigos também. e amigos desses amigos, ou parentes dos mesmos. estranho.
pessoas pulavam o muro.
brigas (eu sempre brigo nos sonhos). na última briga, minha irmã jogava cerveja no meu cabelo. e eu retribuía jogando água, e depois despejando toda uma garrafa de cerveja nela (que, depois dos primeiros _assustados_ jorros, se rendia e passava a dançar sob os jatos de cerveja, tipo 'garota camiseta molhada'; e isso me deixava mais puto ainda).
nos meus sonhos já briguei com amigos, parentes, pessoas-objeto de desejo, comigo mesmo...
eu libero minhas paranóias e tensões nesses sonhos, pelejando com as pessoas de quem gosto. freud explicaria melhor, eu resumo assim: o subconsciente libera todos os pensamentos raivosos e rebelados que tenho ao longo do dia nesses sonhos. i've got problems. porque, num momento banal como o lavar das louças, eu fico maquinando e mancomunando pensamentos revoltosos sobre situações com amigos ou familiares vividas num passado recente. eu fico me rebelando em pensamento e imaginando frases de efeito ofensivas que poderiam ser usadas em hipotéticas brigas e discussões _e que, graças à minha porção mínima de sensatez, não acontecem.

eu sou louco. eu estou ficando louco. eu estou louco. alguma das três alternativas. tenho dito isso aos amigos (uma delas, a cada vez).

no fundo, ainda bem que não sou 'normal'. talvez seja menos fácil, mas é bem mais interessante (não estou certo disso, porém).

5 de out. de 2008


devendra banhart, eua

3 de out. de 2008

como vc está?
"pior que ontem, melhor que amanhã".
como você está?
"melhor que ontem, pior que amanhã".
a primeira versão da resposta é a mais engraçada. e a mais pessimista. a segunda, logo acima, é otimista. e foi a versão que saiu da minha boca ao fazer a piada aqui na firma, ou querer fazer piada. a minha piada foi boazinha e otimista.
no fundo, eu não perco a fé. nem sei explicar por quê.
a depressão é o mal do século. que século? 20? 21?
que depressão? econômica? depressão interior, individual, emocional?
eu não acredito em depressão. eu acredito em um mundo _e vidas_ onde há espaço, e tem de haver, pras tristezas e pras alegrias. é impossível ser feliz o tempo todo (aquela coisa básica: tem de haver algo pra contrastar-contrabalancear... o que é a felicidade sem a comparação com a infelicidade?).
a falta de perspectivas da minha geração _não falo de perspectivas como fama, sucesso ou enriquecimento... que é o que quase todo mundo quer hoje_ me atinge no peito. forte volta ao existencialismo: por que eu, aqui, agora? pra que eu, aqui, agora? difícil formular resposta satisfatória. difícil prever o futuro. difícil interpretar o passado. passou! passou? por que? pra que?
o exagero de perguntas e a escassez _e pouca vontade de formular_ respostas me pega. eu, jornalista ávido por perguntar, curioso, queredor de saber. mas é um saber externo. e o saber-eu? falar de mim? só para raros. quando me abro começo a tremer. as lágrimas enchem os olhos, com a menor das lembranças mais emocionadas.
e são tantas emoções...
tantas, e tão poucas. tantas sentidas, poucas vividas, de fato. o meu viver é cada vez mais interior. dentro da minha própria cabeçona.
às vezes sinto _ou raciocino_ que carrego um escudo comigo, aonde quer que eu vá. e esse escudo, criado por mim, "culpa" minha, afasta e protege, impede a aproximação. cara séria, cenho fechado, olhos bravos de vampiro, sorriso infreqüente, medo, insegurança, estima deficiente... tudo se aplica, nada me atinge, tudo me atinge, tudo vem, vai, volta, chega, sai, fica. tudo se passa por minha cabeça.
e, lá no fundo, eu penso _sinto? raciocino?_ assim: eu sou tão legal. o máximo. inteligente. tenho bom-gosto. tenho classe. fino. cool. belo. interessante.

e daí?